"Quem não se envolve, não se desenvolve!"

terça-feira, 23 de junho de 2009

Sopro no Coração

Não seriam mais do que 7 da manhã quando, cautelosamente, Jonathan se aproximou da sua janela. Não lhe ocorreram pensamentos, apenas sentidos. Não fez absolutamente nada a não ser senti-los, afinal de contas era apenas uma janela. Incontrolavelmente havia lágrimas na sua face e as suas mãos ficaram como que esvaídas, mas ele apenas as fitara com um semblante lânguido, pois não se sentia ali, naquele agora… fitou as suas mãos como se a outro pertencessem e que nenhum respeito lhe dissessem. Verdade se diga, sua cabeça já estava em queda livre do lado de lá da janela desde as 5 da manhã, quando deu por si mais medíocre que infeliz.
Sentindo a mediocridade a correr-lhe mais intensamente pelo pensamento que o sangue pelas artérias, veio-lhe o impulso para abrir a janela e encontrar-se a si mesmo do lado de lá. Abriu. Fechou-a, seguidamente, e tomara todos os cuidados para que parecesse que nunca antes tinha sido transposta. Fechou-a porque lhe faltou a coragem e, porque a mediocridade atingira o seu auge. Jonathan não pensara no lado feliz que findaria toda a infelicidade de se sentir medíocre estaria do lado de lá da janela. Não pensou, de todo. Teve medo de ver seu corpo em queda livre e despenhar-se, por fim, no chão porco e gélido da sua rua, bem debaixo da sua janela, e seguir-se-iam todas as dores físicas e não físicas de quem nunca soube o que é estar sem dor. Sentir-se-ia desconfortável quando seu coração parasse e toda a dor escoasse nos corações de quem o ama, amara e amará.
Foi erróneo. Do outro lado da janela encontraria, ele, algo de pleno. Pois ia buscar a parte de si que rolava em delicada decadência. Sentiu-se para além de medíocre, cobarde. Sentiu-se um assassino de si mesmo, não recuperou o olhar, nem as mãos voltaram a ser suas.
Continuou em frente à janela, eram já 10 da manhã. Jonathan não queria pensar em nada, mas sentia-se sozinho. Concluiu, posteriormente, por ouvir uma voz que o chamava, que se encontrara ali especado havia anos… Estranha voz. Ele vivia sozinho, entre as paredes que o cercavam. Ele não identificou a voz, e, de facto continuava a sentir-se distante do seu corpo. Teve também a sensação que, agora, estava fora de si mesmo, estava a contemplar a sua existência física. Difícil foi inferir o porquê disto tudo…Mas enfim que percebeu e restituiu tudo menos a sua existência. A coragem foi extremada ao ponto de Jonathan querer ser ele sem apatias. Encontrou-se. Iniciou a ascensão livre. E a voz que ouvira, era a aflição de uma pessoa, que o queria bem, desconhecendo o quão mal ele estava.
Questionaram-se sobre o porquê de tal atitude, mas viram a janela aberta de onde o vento tinha soprado naquela manhã em que o coração de Jonathan parou, e a sua plenitude e falta de mediocridade cresceram infinitamente. Foi um sopro, um bom sopro para aquele coração!

Um comentário:

joao salvado disse...

Tou a ver que temos escritora. Apesar de very dark, adorei. coitadito do rapazito que era fastasma e não sabia. Ás vezes é melhor atravessar a janela... Só a mim é que não dedicas poemas, tb quero... ahahahha